11 de setembro de 2013

Entrevista

ArtRio 2013

-Na coletiva de lançamento da primeira temporada de "Pé na Cova" você havia dito que não se importava se o seriado não tivesse vida longa. Se surpreendeu com o convite para uma segunda temporada? 
Fiquei feliz, nem tanto com os elogios. Mas me encantou saber que o programa chegou no povão. Minha grande preocupação era saber se esse humor negro com poesia ia pegar. Porque no meio daquele caos, daquela gente morta, vem uma humanidade. Além disso há uma transgressão grande, eles são livre, loucos. 

-Nas ruas, como é a abordagem do público? 
Eles têm muita empatia com o Ruço, acho que passo muita verdade ao fazer um bofe suburbano. Minha realidade é de carioca suburbano, nasci na Ilha do Governador, então, de alguma forma, estou homenageando esses homens com quem fui criado. A Darlene (Marília Pêra) também é uma unanimidade nas ruas. Acho que o público entende a maluquice deles. Todas as famílias são disfuncionais. Só que eu olho com afeto para elas e isso toca as pessoas. 

-O seriado se passa no subúrbio, mas você mora na Lagoa (bairro da zona sul do Rio). A "classe A" consegue se enxergar ali? 
Eu nunca fiz nada para a dita "classe A". Só faço televisão para o povão, sou popular. E o povão entende a crítica que faço, eles se veem entendendo que não era para ser assim, que a filha não deveria ser puta por falta de opção, que o filho não deveria ser político corrupto. O Ruço é um homem chocado pelo mundo que o rodeia. Crio isso tudo com um olhar do humor, mas continua sendo uma grande tragédia. Vou agora colocar um médico cubano para ir ao Irajá, ele vai chegar de balsa e tudo [risos]. 

-A família de "Pé na Cova" é bastante aberta, eles aceitam a filha lésbica, há um personagem travesti... Essa aceitação também foi uma surpresa? 
De um modo geral, os pobres se divertem mais. Comprei de presente dois apartamentos para minhas duas empregadas, no mesmo prédio, no mesmo andar. Fui à festa de inauguração e tinha puta, travesti, tinha de tudo e todo mundo se dava bem. A sobrevivência obriga você a ser flexível. A classe média é que não tem dignidade, ela ainda está ligada a conceitos, maneiras de ser e viver. E o rico, o rico liga o f***-se. 

-Além desse romance, você já pensou em escrever um livro de memórias? 
"Pretérito Imperfeito" é o nome que acho bom. Mas não vou dizer ninguém que comi no livro, acho uma baixaria. E olha que já comi muita gente. [risos] 

-Depois de gravar tantas cenas em uma funerária fictícia, como anda sua relação com a morte? 
Não tenho problema nenhum com isso, vou igual a um passarinho. Já morremos tantas vezes, o medo é só da primeira vez, não é algo que me assuste. Minha geração morreu inteira. Na década de 80, eu cheguei a ir a quatro velórios em um mês. 

-Você está com 56 anos e em ótima forma. Se cuida? 
Claro que me cuido, tenho que me cuidar, tenho que ficar um velho direito, não quero me arrastar. E também não tenho medo de ficar velho, nada disso, tem gente na vida para tudo. Tem gente para transar com todo mundo, basta procurar. 

-Tem vontade de levar "Pé na Cova" para as telas do cinema? 
Cinema é uma coisa difícil e tenho achado todo mundo histérico com isso de comédia, essa pressão de fazer dois, três milhões de espectadores. Sem contar que, para fazer cinema, tem que fazer muito bem feito. O lema do Canal Brasil deveria ser "quem deve teme", porque cinema fica para o resto da vida. Se você faz uma m***, já viu né? Televisão não, eles apagam as fitas, gravam por cima. [risos] 

Fonte: UOL

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