18 de março de 2013

‘Pé na cova’ mistura humor e melancolia e faz a diferença na TV


No penúltimo episódio de “Pé na cova”, Darlene (Marília Pêra, a cada episódio mais maravilhosa em cena) disse que queria um “tabret”. “Não tive microondas, não tive secretária eletrônica, fax. Agora um ‘tabret’ eu quero”, sonhou, explicando não saber o uso prático do gadget. Nem precisava: era um emblema do anseio de ascensão social nunca alcançada. No episódio da última quinta-feira, Abigail (Lorena Comparato) olhou intensamente para um bebê que passava no colo da mãe pela porta da funerária. Horrorizada, a mulher apertou o passo, deixando Abigail triste. Em seguida, Ruço (Miguel Falabella) explicou: “É preconceito com a morte. Precisamos acabar com essa mortefobia”. 

Quando o seriado estreou, houve quem tivesse sentido a falta de um enredo mais centrado, de forma objetiva, na liturgia dos enterros. Mas, a esta altura, todo mundo já entendeu que a cova em questão é uma metáfora da miséria absoluta em que vivem aqueles personagens. Não há representação mais puxada para a desvalia que a própria morte. O programa de Miguel Falabella dá um rasante num lixão psicológico, suas tramas tratam mais dos sentimentos que das ações. 

Passada a era de ouro marcada por “Avenida Brasil” e “Cheias de charme”, “Pé na cova” é a grande novidade no cenário da teledramaturgia. Falabella e sua equipe de roteiristas praticam o humor negro, a graça dos rejeitados, o politicamente incorreto rasgado. Fazem isso com requinte, mas sem fugir daquela piada bem popular dos trocadilhos — o mesmo jogo que consagrou Magda em “Sai de baixo”. 

A direção (Cininha de Paula e Cris D’Amato) vem acertando cada vez mais no intimismo que as histórias pedem. “Pé na cova” merece a sua atenção. 

Fonte: Patrícia Kogut

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