25 de dezembro de 2010

Crônica de Dezembro - "Ainda feliz natal"


Eu olho o traçado que a luz desenha no soalho, filtrada por um pingente que balança no falso pinheiro de Natal, e penso que Deus está mesmo nos detalhes, ou no retângulo que salta do piso como uma tela virtual, um abstracionismo que a refração da luz me oferece assim, inesperadamente, materializada no chão do escritório. Estou há não sei quanto tempo mergulhado na caverna virtual, em busca dos arquivos de Natal, à cata de um sentimento específico: o acordar na manhã do dia 25. Cedo. Muito cedo. Antes dos adultos. Descer as escadas e encontrar a imensa mesa, montada sobre cavaletes para acomodar toda a família, ainda posta, com as iguarias cobertas por guardanapos de papel. E os brinquedos ganhados na véspera a minha espera, ali, no pé da árvore. Rabanadas, ameixas e cerejas, que eram raras naqueles tempos em que se suspirava por uma calça Lee. Lembro-me especialmente dos olhos de uma prima que ganhou uma calça Lee, num daqueles Natais em família. Era a mesma que tinha a foto de Richard Chamberlain presa com durex no interior da porta do armário.

Ela rasgou o papel enfeitado e olhou a calça com adoração. Esperava por ela havia muito tempo. Afinal, aquilo era artigo que só se encontrava nas importadoras. Eu também, entrando na adolescência, juntei dinheiro e fui à rua da Alfândega comprar meus jeans, que ficaram largos, porque insistiram que eu ia espichar e a calça não ia servir mais. Mas não fui o único, garanto.

Estou fazendo uma varredura nesses arquivos e é impressionante como ali a juventude das primas manteve-se fresca, todas bronzeadas no fim de dezembro, trocando frascos de Gelatti, cada qual com sua cor favorita. Muitas primas, sempre. Marli, Marisa, Edilma, Edna, Edilza, Eliana, Eliete, Celi, Celma, Célia – escolhiam uma letra e, a partir dela, batizavam a prole. Enquanto isso, é claro, davam asas à imaginação. Era, também, nesses imensos encontros de família, quando se exagerava no vinho, que se diziam coisas e se criavam mágoas.

Eu olho o traçado que a luz desenha no soalho, filtrada por um pingente que balança no falso pinheiro de Natal, e penso que Deus está mesmo nos detalhes, ou no retângulo que salta do piso como uma tela virtual, um abstracionismo que a refração da luz me oferece assim, inesperadamente, materializada no chão do escritório. Estou há não sei quanto tempo mergulhado na caverna virtual, em busca dos arquivos de Natal, à cata de um sentimento específico: o acordar na manhã do dia 25. Cedo. Muito cedo. Antes dos adultos. Descer as escadas e encontrar a imensa mesa, montada sobre cavaletes para acomodar toda a família, ainda posta, com as iguarias cobertas por guardanapos de papel. E os brinquedos ganhados na véspera a minha espera, ali, no pé da árvore. Rabanadas, ameixas e cerejas, que eram raras naqueles tempos em que se suspirava por uma calça Lee. Lembro-me especialmente dos olhos de uma prima que ganhou uma calça Lee, num daqueles Natais em família. Era a mesma que tinha a foto de Richard Chamberlain presa com durex no interior da porta do armário.

Ela rasgou o papel enfeitado e olhou a calça com adoração. Esperava por ela havia muito tempo. Afinal, aquilo era artigo que só se encontrava nas importadoras. Eu também, entrando na adolescência, juntei dinheiro e fui à rua da Alfândega comprar meus jeans, que ficaram largos, porque insistiram que eu ia espichar e a calça não ia servir mais. Mas não fui o único, garanto.

Estou fazendo uma varredura nesses arquivos e é impressionante como ali a juventude das primas manteve-se fresca, todas bronzeadas no fim de dezembro, trocando frascos de Gelatti, cada qual com sua cor favorita. Muitas primas, sempre. Marli, Marisa, Edilma, Edna, Edilza, Eliana, Eliete, Celi, Celma, Célia – escolhiam uma letra e, a partir dela, batizavam a prole. Enquanto isso, é claro, davam asas à imaginação. Era, também, nesses imensos encontros de família, quando se exagerava no vinho, que se diziam coisas e se criavam mágoas.

Abração!

Nenhum comentário: