17 de maio de 2009

Miguel: "Nível mental do telespectador brasileiro é de nove anos de idade"

Miguel Falabella nunca foi de meias-palavras. Diz o que pensa e o que quer com sinceridade e opinião, qualidade inegável no meio televisivo, em que as pessoas temem se chamuscar com egos inflamáveis e assuntos explosivos.

Autor e ator do seriado “Toma Lá, Dá Cá”, em que vive o corretor de imóveis Mário Jorge, o carioca não abranda suas críticas nem a seu próprio personagem. “Ele é um traste, um homem que não serve para nada. Não soube educar os filhos. Aliás, todos os personagens são péssimos”, diverte-se ele, falando dos tipos instalados no fictício condomínio Jambalaya, encravado na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
O programa, que tem se mantido com pouco mais de 20 pontos de audiência, emplaca sua terceira temporada sem saber se vai permanecer na grade. A dúvida, porém, não abala Miguel. “Não sou de ficar na mesma coisa a vida inteira. As coisas terminam. Ficamos três anos, já está de bom tamanho”, avalia ele, que acredita ter ainda material suficiente para emplacar mais um ano do humorístico. “Acho que ele ainda tem fôlego para mais, mas não cabe a mim decidir. Se não tiver de ser, faço outra coisa. Graças a Deus, trabalho não falta”, garante.

Entre os projetos, estão peças de teatro – uma delas, “Gaiola das Loucas”, em que Miguel aparecerá ao lado de Diogo Vilella – e o esboço de uma nova série, que gira em torno do culto à celebridade. “Essa cultura transformou todo mundo na mesma coisa”, sentencia. “Eu não vou mais a lugar nenhum, porque você é obrigado a ser fotografado ao lado de vagabundos, ladrões, assassinos, com tudo. Vai tudo no mesmo saco”, argumenta.

O que ainda vai ter de novidade para o programa?

A Isadora vai ser juíza. Não teve agora essa juíza loura, uma mulher corrupta, que está aí nas páginas? E alguém diz alguma coisa? Se bobear vai estar na “Caras” mostrando a casa, daqui a pouco. Não vai? Claro que vai! E vai todo mundo vai achar lindo. O Brasil perdeu os valores básicos. O “Toma Lá” é uma brincadeira, mas denuncia isso tudo.

E você acha que o público entende dessa forma?

Em “A Lua me Disse”, por exemplo, você foi acusado de racismo por causa das personagens Latoya e Whitney… Eu respondo a seis processos até hoje. O nível mental das pessoas que assistem à TV no Brasil é por volta de 9 anos de idade. Em comparação a um jovem francês, o que lê um jovem brasileiro? Um jovem francês lê 200 vezes mais. E um país que não tem educação nos condena à mediocridade. Aqui mesmo tem diálogos e piadas que as pessoas não entendem, porque não têm informação. É o que eu brinco: para entender o “Toma Lá, Dá Cá” tem de, pelo menos, ter lido “A Moreninha”. Mas o público entende a transgressão e a brincadeira, gosta do absurdo.

A recepção, então, é boa?

Com certeza. Quando você acharia que uma senhora, uma avó como é a Copélia, poderia se comportar dessa maneira? Uma mulher que só pensa em sexo? Mas o público ama a Copélia. Acho que a gente está tão farto de mentira, de hipocrisia, que, quando alguém diz uma loucura – e diz de verdade, porque eles acreditam naquilo – as pessoas gostam.

O que falta na TV?

Ela precisa se repensar urgentemente, como um todo. Nós precisamos apontar novos caminhos – mas é muito difícil. Porque nós trabalhamos com uma matéria-prima que é a palavra. Quanto menos educado é o povo, menos você pode dizer as coisas, porque as pessoas não entendem. As pessoas não leem e não sabem escrever. É aterrador. Por isso enfatizo a educação. O povo precisa ser educado, a leitura tem de ser incentivada. Não sei o que vai acontecer, mas, obviamente, mudanças são necessárias.

De Louise Araujo

Abraços!

Um comentário:

Ricardo disse...

ele não tem papas na lingua rsrs adoro!!