Miguel Falabella pode respirar aliviado. Grazi Massafera vai ser uma das grandes atrizes de sua geração e, muito provavelmente, dará conta de sua primeira protagonista. É inegável que quando aparece na tela, a loura chama toda e qualquer atenção pra si. Mesmo com poucas falas, a moça deu o tom certo à Lívia, e o ponto alto foi vê-la numa cena de flashback, ainda uma adolescente com aparelho nos dentes, naquele misto de euforia e pavor ao descobrir-se grávida. Não foi Grazi, porém, quem abriu "Negócio da China". A primeira cena mostrou imagens de São Paulo. Na cidade, Adriano (Herson Capri) assistia a um DVD da época de calouro na faculdade. Gancho para que o público saiba que o empresário foi doador de sêmen na juventude, e hoje, se angustia sem saber se teve ou não um filho. Corte para o Rio de Janeiro, uma UTI móvel resgatando Ernesto ( Antonio Fagundes) numa das ruas do Parque das Nações, onde se concentra a maioria dos personagens da trama. A apresentação de alguns núcleos, porém, foi confusa. Fábio Assunção, na pele de Heitor, consolava a vizinha Augusta (Nathalia Timberg) quando recebeu o telefonema de Lívia. Emoção no olhar, na fala e no jeito de coçar a testa e mexer nos cabelos. O bom e velho Fábio está de volta ao papel de mocinho.Pela cena de Antonio Fagundes e Natália do Vale no hospital, fica claro que o telespectador vai ficar órfão de um casal com bastante química. No dramalhão em que os personagens, médicos, constatam as poucas horas que restam a Ernesto - e desta vez, ao contrário de Juvenal Antena de "Duas caras", não vai haver ressureição - , os atores demonstraram comoção na dose certa ao tornar menos mexicano a história de "temos que contar o segredo a nosso filho antes que eu morra". O link é óbvio. Diego (Thiago Fragoso), na verdade é filho do doador Adriano, e este é um dos motes da novela.
Saindo do drama, Miguel mostrou uma Macau colorida, onde um show de Ney Matogrosso servia de cenário para o intrépido chinês Liu (Jui Huang) fazer um roubo bilionário num cassino. Pausa para que a novela bebesse das fórmulas já utilizadas por Quentin Tarantino em "Kill Bill" e Jackie Chan em seus filmes de ação. O efeito, apesar do esforço, porém, foi bem aquém do que estamos acostumados a ver nas telas de cinema. Não dá para acreditar num bando de chineses da máfia sem qualquer arma e discutindo como se estivessem na feira vendendo pastel. O estreante Jui Huang, no entanto, pode se transformar num herói moderno para a garotada.
Se com o chinezinho o sotaque ainda não foi o problema - ele pouco abriu a boca e pecou-se por não manter uma legenda em algumnas cenas -, o mesmo não aconteceu com o elenco portugês. Ficou quase impossível entender o que o núcleo da padaria pronunciava. Só Ricardo Pereira se salva e demonstra que será difícil fazer o público escolher entre ele e Fábio. É bom que a equipe de caracterização também se policie. A maquiagem pesada deu a Francisco Cuoco aspecto de boneco de cera. O mesmo aconteceu com Nathalia Timberg, Eliana Rocha, Yoná Magalhães e Vera Zimmermann. E que num próximo flashback, Fábio Assunção não precise usar aquela peruca medonha. Ele não merece!
No mais, "Negócio da China" agrada ainda pela trilha sonora, que traz Tim Maia, Roberta Sá, além do próprio Ney Matogrosso na abertura, e pela velocidade dos acontecimentos. Se alguém teme a derrocada da dinastia de folhetins de época no horário, a notícia que vem agora não é boa: na prévia do Ibope, a novela atingiu 29 pontos e 45% de share. O primeiro capítulo de "Ciranda de pedra", com elenco estelar, teve 25. É aguardar para ver se a emissora fez um negócio da China alterando o gênero das seis.
Extra
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